A Construção: novo monólogo de Caco Ciocler sobre conto de Kafka

De em fevereiro 15, 2012

Caco Ciocler é o personagem atormentado do conto de Franz Kafka

Nada estranho em se tratando de Franz Kafka, considerado o maior escritor de língua alemã do século XX. Para quem criou o personagem que, num belo dia, acorda no corpo de uma barata (A Metamorfose, de 1915), viver num buraco, longe de todos e do mundo, parece “normal” dentro deste universo.
A Construção, em cartaz até final de março no Espaço Cênico do SESC Pompeia — é uma adaptação inédita para o teatro do conto homônimo do escritor tcheco que o diretor Roberto Alvim traduziu e criou especialmente para a performance de Caco Ciocler.
A trama, publicada em 1923, está intimamente ligada ao momento que o escritor vivia: turberculoso e pressentindo a ascensão do nazismo, Kafka escreveu o conto meses antes de sua morte.
Num clima intimista (a sala reúne apenas 50 espectadores), A Construção começa na penumbra, com apenas um pequeno foco de luz sobre uma mesa em que o personagem escreve. Intercalando voz gutural e sussurros com frases ditas rapidamente e em tom mais agudo, Caco Ciocler dá forma ao personagem perturbado e ensimesmado, que para fugir dos perigos do mundo resolve construir sua moradia debaixo da terra.
Segundo historiadores, Franz Kafka, que nasceu em Praga, em 1883, era uma pessoa reclusa e só deixava sua casa para trabalhar numa firma de seguros. Para o diretor, o conto é uma “ficção autobiográfica” e isto é evidenciado na montagem:

“O texto aborda o isolamento, um namoro com a saída e com a não saída; a vida inteira para construir uma casa, para ter sua casa e para se fechar dentro dela. Trata-se de uma metáfora do bloqueio de Kafka com o mundo exterior”, esclarece Alvim.

A montagem, protagonizada por Ciocler, tem cenáro e figurino assinados por Marina Previato

 

Em contraposição a esta figura enigmática e que veste pijama branco, o diretor criou outro personagem (vivido por Ricardo Grasson), que aparece de sobretudo e chapéu pretos em alusão à imagem de Kafka.
Além dos inimigos externos, o personagem — assim como todos nós — convive com seus próprios inimigos ou fantasmas interiores. E para combater estes adversários, nem o refúgio debaixo da terra pode resolver. Daí, talvez, o tom constrangedor e silencioso com que a peça termina. O ator, assim como já tinha feito em seu último trabalho (45 Minutos, do carioca Marcelo Pedreira, outra parceria de Ciocler e Alvim) não volta para agradecer os aplausos, evidenciando o caráter provocador, tanto do texto kafkaniano como da proposta do espetáculo.

Fotos: Bob Sousa


2 Comentários

Joacy Vasconcelos ajnv

novembro 29, 2020 @ 00:50

Resposta

Em A CONSTRUÇÃO, kafka faz alusão à sua produção literária, ato contínuo e obsessivo, em cujo mister mergulhava como em águas profundas da ficção e do mistério, nítida fuga da realidade nua e crua, que pesava mais devido também à sua timidez, e à sua desconfiança nos laços familiares e nos relacionamentos sociais, preferindo ater-se num mundo imaginário, embora ainda sofrendo supostos ataques de supostos inimigos até mesmo nas grutas sombrias de suas construções subterrâneas do imaginário.

Maurício Mellone

novembro 30, 2020 @ 12:30

Resposta

Joacy:
obrigado pela visita ao Favo.
Volte sempre
Abraços

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